O Centro de Estudos e Pesquisas Afro Alagoano - Quilombo foi criado no dia 5 de novembro de 2002 por sete integrantes do movimento negro, com a finalidade de dar-lhe nova roupagem, integrando a juventude no conjunto de suas ações políticas. As razões argumentavam com a necessidade de maior integração da sociedade civil ao movimento, reforçando uma atuação que se desvinculasse de maiores compromissos com instituições públicas, em face da necessidade ponderada de incrementar ações afirmativas. A convocação foi realizada por historiadores e contaram com o apoio de capoeiras e de um representante de banda afro. Três historiadores, três capoeiras e um músico foram as pessoas que começaram o Centro, cujas reuniões iniciais eram em diversas instituições, especialmente no sindicato de professores das escolas particulares.
A referência para a pauta de reivindicações, organização e estrutura ideológica passava pelo Quilombo dos Palmares que inspirava e dava base às discussões. O Quilombo é fundamento para as discussões do movimento negro no Brasil. A entidade nascida demandava identidade quilombola, o que se nota, inclusive, na sua denominação. Isto significa que a busca da história gerava a discussão de um modo de ser e de agir; portanto, havia uma proposição que necessariamente passava pela afirmação das raízes negras e da busca de uma política que estivesse ligada diretamente ao processo histórico da luta dos negros no Brasil, que tiveram os quilombos como instrumento de organização e atuação, dentre outros que estrategicamente eram construídos. É também das discussões iniciais, que se teve a necessidade de particularizar a condição alagoana. Isto não implica – e jamais poderia implicar – em esquecer a unidade nacional, mas especializar os trabalhos em cima da realidade alagoana, o local onde o movimento deveria estar no cotidiano imediato da comunidade. Desta forma, a pauta da reivindicação afirmativa teria que obrigatoriamente considerar a realidade específica de Alagoas. O Quilombo que se formava integrava-se à questão nacional, justamente, por encontrar a diferenciação local. Desde modo estava posta a correspondência na ordem das ações: uma estratégia especifica e a montagem tática a ela associada.
É claro que o Quilombo teria que ser visto na perspectiva do andamento da sociedade, especialmente a de Maceió, que vivia a conhecida inchação urbana e a construção de áreas consideradas eufisticamente de periferia, mas, na realidade, resultado da distribuição da desigualdade. Periferia estava ocupando o olhar real da pobreza feita urbana. É neste local social da pobreza que se encontra o negro, e, conseqüentemente, é nele que deveria estar um Quilombo, e é onde vai ter vida o Centro de Estudos e Pesquisas Afro Alagoano - Quilombo. Como se nota, o Quilombo demandava seu lugar e, nele, não poderia deixar de articular uma tese: é preciso conhecer para atuar. Deste modo, recusava a ação sem o conhecimento, que, obrigatoriamente, não vem pela formatação científica tradicional, mas pelo povo.
Viviane Rodrigues