sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Vila de Pescadores de Jaraguá receberá a visita de um técnico do IPHAN






Um tesouro escondido na Vila de Pescadores de Jaraguá
            Quando o homem e a mulher ainda se faziam humanos toda coletividade tinha um tesouro a proteger, defender, cuidar: o fogo. Quantas lutas! Quanta vida despendida na retomada e guarda do tesouro!! Era a vida. E de tudo ficou a conquista do conhecimento para mantê-lo aceso, conhecimento que foi difundido e disponibilizado para milhões de gerações futuras. Temos o fogo.
            Cada época tem sua riqueza, aquilo em que se investe quase tudo, que se torna sonho de multidões e que se acredita poder fazer a felicidade humana. Para os gregos o conhecimento; para os espartanos a arte da guerra; para os medievais a terra; para os modernos o dinheiro; para o garimpeiro (e as grandes corporações) o ouro e o diamante. Estamos no tempo de outro bem: o patrimônio cultural, a riqueza que nos permite ser humanos. Presente na cotidianidade da vida simples o bem cultural tem muitas formas, movimentos, cores, sons e sabores e, acredite, exige mais que o olhar para ser visto, mais que um conhecimento específico para ser identificado, requer uma visão de respeito ao grande tesouro ainda escondido – à diversidade de formas de viver, produzir, conviver, sentir, fazer, resistir, celebrar a vida e o desaparecer humano. O patrimônio cultural pode ser imaterial, pode está em um lugar atraente para outros garimpeiros acumuladores do tesouro-dinheiro. É uma riqueza nada fácil de proteger.
Nas lendas e histórias infantis o tesouro é escondido em lugares difíceis, envolto por monstros feios e animais perigosos, espíritos assustadores. Interessante, foi exatamente esse imaginário construído em torno da rica atividade de construção de barcos e redes, de pesca, de trato e comercialização do pescado e da vida dos pescadores de Jaraguá. “Favela”, perigosa, “povo agressivo e isolado”,não tem desenvolvimento humano”. O caminho até o tesouro é pequeno, poucos metros do Palácio. Mas tem tanto entulho e lixo! Paisagem feia! Aparente perigo que desanima a curiosidade do visitante. A quem interessa esconder essa forma de vida?
Garimpeiros culturais e defensores da vida venceram o medo e a Vila foi espiada, observada, inquirida, questionada, orientada por intelectuais das mais variadas áreas do conhecimento. Arquitetos, economistas, antropólogos, historiadores, filósofos, psicólogos, professores, médicos, teólogos, lingüistas, juristas, turismólogos, enfermeiros, estudantes, atores, músicos... romperam becos e barracos e viram sinais evidentes do tesouro. Outras lentes negam qualquer brilho especial.
Eis que chega um enviado especial de um lugar chamado Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – (Conforme Carta nº 32 do Gabinete do IPHAN-AL, de 12/09/2011) para estudar o lugar. O pedido foi feito ao IPHAN, pela própria comunidade de pescadores, para INSCRIÇÃO NO LIVRO DE REGISTRO OFÍCIOS E MODOS DE FAZER DOS OFÍCIOS DE PESCA TRADICIONAL E INSCRIÇÃO NO LIVRO DE REGISTRO DO LUGAR, RECONHECENDO O ESPAÇO OCUPADO PELA VILA DE PESCADORES DE JARAGUÁ ENQUANTO LUGAR ONDE SE REALIZA E SE ATUALIZA ESSE SABER FAZER.
Com formação para o reconhecimento do Patrimônio Cultural Imaterial essa pessoa técnica vai mapear e qualificar o tesouro da Vila de Pescadores de Jaraguá. Não haverá mais segredos e os “monstros feios” serão evaporados e o conhecimento do fazer barco e rede, da pesca artesanal, do trato do pescado poderá ser garantido às futuras gerações. O resultado dessa investigação marcará a trajetória de luta da pequena Vila e inscreverá página importante na história de Maceió e da cultura alagoana e brasileira.

Marluce Cavalcanti Santos
Professora de Filosofia
Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente
    Coordenadora Pedagógica do Ponto de Cultura Enseada das Canoas: Yar-á-guá Cultural.

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